domingo, 14 de março de 2010

DARIO III (336 – 330 a.C.) - PARTE III

Perseguição na Média
Não tendo obtido o apoio dos aristocratas persas, Alexandre e seu exército foram obrigados a marchar para Ecbátana, a capital da Média, ao norte do Império Aquemênida, onde Dario III estava.  Este foi o pesadelo do alto comando macedônio: a procura de um inimigo que certamente se deslocaria para a parte oriental do Império Aquemênida. A menos que Dario se mantivesse firme em Ecbátana, o exército macedônio seria forçado a segui-lo para países desconhecidos, enfrentando perigos desconhecidos. Ainda que Dario fosse capturado ou morto, Alexandre e seus homens corriam o perigo de uma desastrosa campanha no Oriente. Após organizar o antigo país dos persas na satrápia de Persis, em maio, o Macedônio e seu exército marcharam para o noroeste e em junho chegaram em Ecbátana.
Ruínas de Ecbátana em Hamadan, Irã
Mas Dario não estava mais lá. Há apenas dois dias ante ele tinha ido para o leste. É interessante notar que Dario tinha ficado em Ecbátana durante o inverno, o que indica que ele ainda tinha esperanças de se reerguer, e assim poderia reconquistar a Assíria e a Babilônia e cortar o abastecimento das linhas macedônicas enquanto Alexandre permanecia em Persépolis. De fato, durante a sua marcha para Ecbátana, em Gabae (atual Isfahan no Irã) os macedônios receberam a notícia de que Dario certamente receberia tropas e estava preparado para enfrentar mais uma batalha, mas parece que os novos soldados chegaram tarde demais. De agora em diante, Dario III já não estava lutando para recuperar seu império.
Guerreiros persas
O Grande Rei que governara um império que ia do norte da África ao sopé do Himalaia, o soberano de vários povos, estava agora lutando por sua sobrevivência. Além disso, os defensores Dario estavam oscilando. Houve divisões no seio da família real: um príncipe chamado Bistanes, o filho de Artaxerxes III Oco, portanto tio de Dario, entregou Ecbátana aos macedônios sem resistência. Alexandre continuou a sua política de atrair os nobres persas para longe de seu oponente: o persa Atropates foi recebido como um importante membro da corte e mais tarde nomeado sátrapa da Média. Abaixo, localidades da perseguição de Alexandre a Dario na Pérsia e na Média.O Rei Dario levou consigo o tesouro da Ecbátana e viajava lentamente. Ele chegou a Rhagae (perto da atual Teerã), o mais importante centro religioso do zoroastrianos. Possivelmente, Dario pode ter querido sacrificar ao fogo sagrado, mas foi incapaz de parar: se a Pérsia e sua religião tivessem que ter um futuro, ele teria que chegar nas satrápias orientais o mais rápido possível e recrutar um exército. Seu rumo parecia ser a satrápia da Báctria.

Conspiração
Após onze dias de marchas forçadas, Alexandre chegou a Ragae onde foi obrigado a permanecer por algum tempo devido ao cansaço das tropas. Dario, que estava acampado a leste dos desfiladeiros do mar Cáspio, declarou a seus homens que estava disposto a enfrentar o Macedônio em mais uma batalha. Uma minoria ainda estava disposta a seguir o Grande Rei, mas a maioria lhe resistiu. Para Besso, Nabárzanes, comandante da Guarda Real, e Barsaentes, o sátrapa de Aracósia e Drangiana, a situação era clara: se eles se mantivessem fiéis ao seu rei, os macedônios invadiriam as satrápias orientais. Abaixo, representação da cabeça de um nobre persa.Por outro lado, se Dario fosse preso e entregue aos invasores, não haveria guerra, porque era pouco provável que os macedônios estivessem interessados em países desconhecidos, onde eles seriam forçados a lutar batalhas imprevisíveis. Nabárzanes sugeriu a Dario que passasse a autoridade real temporariamente para Besso, que tinha grande prestígio nas províncias orientais. Parece que o plano já estava traçado desde a derrota em Gaugamela. Dario respondeu puxando seu punhal e Nabárzanes fugiu seguido por Besso e seus homens bactrianos. Aconselhado por seu fiel ministro Artabazo, Dario perdoou os sediciosos (até porque eles tinham a maioria dos homens). Intermediados por Artabazo, Nabárzanes e Besso foram a tenda do rei e (hipocritamente) manfiestaram submissão e arrependimento. Dario e seu grupo rumaram para a aldeia de Tara perto de Hecatômpilo, capital da Pártia. O comandante dos mercenários gregos, pressentindo a traição no ar, aconselhou a Dario a colocar-se sobre a proteção da tropa grega. Mas Besso agiu rapidamente e cercou a tenda do rei com seus homens da Báctria.

Traição
Durante a noite Besso, Nabárzanes e Barsaentes junto com outros entraram na tendo do rei e prenderam-no arrastando-o ao carro no qual pretendiam levá-lo à Bactria e oferecê-lo a Alexandre. O ocorrido causou confusão no acampamento: uns debandaram; outros seguiram a contragosto os bactrianos para o leste; Artabazo e seu filho, fiéis a Dario, seguiram com os mercenários gregos para o norte. Artabelos e Bagistane resolveram se entregar a Alexandre. O sátrapa da Báctria era o homem mais importante do Império Aquemênida depois do rei. Um príncipe herdeiro governaria a Báctria por dois anos e um rei sem filhos ou sem filhos maiores iria nomear seu irmão como governador nesta satrápia. Abaixo, a rota de Alexandre em sua busca por Dario e posteriormente por Besso. sua procura pelo Grande Rei da Pérsia o levaria à Índia. O atual governador da Báctria, Besso, destacado guerreiro que lutara em Gaugamela, deve ter sido parente e muito íntimo do rei Dario, pois este deve ter pensado que ele estaria seguro quando chegasse ao território de Besso. Ainda com prestígio diante dos homens mais orientais do Império, Besso resolve se proclamar o novo Grande Rei e adota o título de Artaxerxes (V). Ao que parece, o plano dos conspiradores era barganhar o domínio das satrápias orientais com o Alexandre em troca da vida de Dario III.

Morte
Em sua marcha Alexandre e seus homens encontram a Artabelos e Bagistane que lhes informam do ocorrido. O Macedônio resolve apressar ainda mais a sua marcha. Tendo notícias do paradeiro de Besso, Alexandre resolve pegar um difícil atalho pelo deserto com seus homens mais capacitados (dos quais muitos ficaram no deserto). Com medo do rápido avanço de Alexandre, Besso e Nabárzanes pediram Dario para montar um cavalo. Dario se recusou, declarando que ele não iria se aliar com seus traidores. Besso, Nabarzanes e Barsaentes, seu companheiro de conspiração atiraram suas lanças em Dario e mataram os animais que puxavam o carro. Besso então fugiu para Báctria e Nabárzanes para Hircânia. Eles deixaram para trás a Dario e as próprias tropas que haviam permanecido leais a eles. Um soldado do exército de Alexandre, Polístrato, enquanto buscava água encontrou Dario abandonado num carro. Polístrato percebeu que o Grande Rei estava para morrer e deu-lhe água para beber. As últimas palavras de Dario foram ditas a este soldado comum: "Este é o golpe final da minha desgraça, que eu deveria aceitar um serviço de você, e não ser capaz de retribuí-lo" Dario deu a Polístrato sua mão direita - que entre os persas representava o mais solene compromisso de boa fé - e pediu que o aperto de mão fosse repassado para Alexandre. Então, ele morreu. Depois, o Conquistador chegou e lamentou a morte do Grande Rei, o último soberano da dinastia aquemênida. Alexandre estendeu seu manto real sobre o Grande Rei e enviou seu corpo para sua mãe, Sisigâmbis, em Persépolis onde Dario recebeu um funeral com todas as honrarias. Cogita-se que foi sepultado no túmulo de Artaxerxes III Oco (358 – 343 a.C.) em Naqš-i Rustam onde estavam sepultados os reis aquemênidas. Abaixo, Dario III estende a mão para Polístrato.
E assim em julho de 330 a.C., morreu Dario III, o último rei aquemênida do Império da Pérsia. Dario não fora assassinado por Alexandre Magno, mas por seus nobres e conterrâneos. Mas morreu disposto a lutar, ainda que inutilmente, pelo seu trono; morreu sem barganhar ignobilmente sua coroa; não era um Ciro, um Dario I ou um Xerxes... Mas quem estaria à altura do gênio militar de Alexandre, ainda mais após dezenas de anos de crise sucessória e instabilidade política por que passou o Império Aquemênida antes de Dario III Codomano? Morreu vencido, morreu traído, mas morreu como um rei, o último rei aquemênida. Abaixo, Alexandre encontra o corpo de Dario III.


Epílogo
Como o império persa havia sido conquistado e Besso governava apenas uma aliança de províncias rebeldes, os historiadores geralmente não o consideram como um verdadeiro rei aquemênida. Mas enquanto houvesse alguém a reivindicar o título de Grande Rei do Império Persa, a posição e imagem que Alexandre pretendia passar aos seus novos súditos estava ameaçada. Besso, entitulando-se Artxerxes V, retornou à Báctria e tentou organizar a resistência entre as satrápias orientais. Alexandre foi forçado a deslocar suas forças para liquidar a rebelião em 329 a.C. Apavorado com a aproximação dos macedônios, o próprio povo de Besso capturou-o e entregou-o a Alexandre. Alexandre ordenou que se cortassem as orelhas e o nariz de Besso, que era o costume persa reservado àqueles envolvidos em rebelião e regicídio; sabe-se que Dario I puniu o usurpador Fraortes de maneira similar. Besso foi então crucificado no local onde Dario III foi morto. Assim terminava a era aquemênida. A era helenística começava. Abaixo, ilustração do castigo de Besso.


REFERÊNCIAS
http://www.iranica.com/newsite/
http://en.wikipedia.org/wiki/Dario_III_of_Persia
http://cais-soas.com
http://www.boisestate.edu/courses/westciv/Alexandre/09.shtml
http://www.Alexandrestomb.com/main/index.html
http://www.livius.org/aj-al/Alexandre/Alexandre09.html
http://www.gaugamela.com/
Castro, Paulo de. Biblioteca de História: Grandes Personagens de Todos os Tewmpos, vol. 4:Alexandre, o Grande. Editora Três: São Paulo, 1973.
Wepman, Dennis. Os Grandes Líderes: Alexandre, o Grande. Editora Abril: São Paulo, 1988.

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